terça-feira, 30 de março de 2010

Disseram que não fui feita para gerar

Luta para engravidar de uma mulher com Hipotireodismo, Trombofilia, Deficiência de Corpo Lúteo e depois Placenta Baixa e Pressão Alta.

No início de 4 anos de tentativas, tive meu primeiro atraso menstrual cerca de 6 meses depois de começar a tentar. Fui no posto de saúde e pedi um exame. As enfermeiras falaram que não eu podia fazer pois tinha pouco tempo de atraso.
Eu falei: vocês vão fazer o exame de sangue porque se eu precisar tomar qualquer remédio e prejudicar a gravidez vocês serão responsáveis. Assim consegui o exame. Depois de 7 dias voltou o resultado: positivo.
Comecei a sentir as transformações da gravidez e dentro de um mês tive o primeiro aborto. Esse aborto eu tive com um comecinho de sangramento, quando eu ia no banheiro, ao me limpar saía um pouquinho de sangue limpo, clarinho, rosa. Fui para o hospital, fiz ultra-som e detectou gravidez anembrionária, Não tinha feto, apenas a placenta tinha se desenvolvido.
O doutor perguntou se eu queria voltar outro dia para fazer a curetagem, ou se eu queria já entrar em contato com meu marido para me internar. Eu disse: tem que tirar? Então eu prefiro ficar hoje. Entrei em contato com meu marido que trabalhava próximo ao hospital.
Ele chegou, chorei muito, pedi desculpas, porque a gente se sente impotente. Eu sentia que a culpa era minha. Fiz a curetagem, o procedimento não foi traumatizante, o que me maltratava era o fato da perda. Tomei anestesia geral , não senti dor não senti nada. Eu falava pra mim mesma que eu tinha que esperar no mínimo uns seis meses pra tentar novamente. Esperei um ano.
Quando começou a se aproximar de um ano eu quis engravidar de novo. Consegui engravidar depois de uns 4 a 6 meses que parei o comprimido. Ai começou de novo a querer dar sinal de sangue na calcinha. Fui pro médico, ele mandou fazer repouso, sem fazer ultra-som sem nada. Logo depois viajei pra uma cidade vizinha, fiz o repouso na casa da minha sogra. Quando eu voltei, o médico disse que eu podia voltar a namorar. Então na hora da relação eu senti dor, só que foi uma dor assim: doeu e parou, depois não senti mais nada. Mas na hora que fui me limpar no banheiro após a relação: sangue de novo, do mesmo jeito, bem clarinho.
Fui para o pronto socorro, fiz ultra-som e tinha um bebê, só que não tinha batimentos cardíacos. Perguntei ao médico se era normal. Ele disse que era (mas não é normal, ele só disse isso pra me acalmar), e como ele não estava conseguindo ouvir, me pediu pra voltar pra casa e retornar dali a 7 dias. Se dali a 7 dias ele visse que o bebê teve desenvolvimento, confirmaria a gravidez saudável, senão, o bebê não estava mais vivo.
Fiquei de repouso, tomei Inibina e Evocanil. Voltei depois de 7 dias e o bebê não tinha se desenvolvido. Então dessa vez foi bem traumatizante, pois eu não tava com medo da curetagem, porque da outra vez eu não tinha sentido nada. Mas dessa senti tudo, eles colocaram um Citotec debaixo da língua e outro no colo do útero e falaram: você vai sentir uma colicazinha. Mas a colicazinha na verdade era dor de parto e eu não sabia, porque o Citotec faz dilatar o colo do útero.
Quando começou a cólica fui para o banheiro achando que era vontade de fazer cocô. Mas não adiantou fazer cocô, era muita dor. Comecei a pedir pelo amor de Deus que me ajudassem. Aí veio a médica, fez o toque e não tava abrindo nada o colo do útero, eu tava sentindo muita dor mas não tava tendo dilatação. Ai outro médico veio, fez o toque e disse: vamos ter que levar assim. Ai
fiz a curetagem depois de uma rack . Foi muito traumatizante ir para o centro cirúrgico, com a dor que eu sentia, eu vomitei mesmo estando de jejum.
Antes de receber a rack eu sentei e apaguei de tanta dor que eu sentia, e os médicos tiveram que esperar eu reanimar para aplicar a anestesia. Assim foi feita a curetagem e fui pra casa.
Após isso passei por vários exames de sangue, e eles colheram um para detectar trombofilia. Falaram que uma mulher que tem três perdas de gestação eles investigam as causas, só que como isso estava me causando muito desgaste mental, com duas perdas eles iriam investigar meu caso.
Trombofilia é uma deficiência na coagulação do sangue. Meu organismo tem deficiência de anticoagulação. Então o sangue coagula dentro de mim.
Quando saiu o resultado desse exame, eu não tive acesso pra saber se eu tinha ou não. E também descobriram que meu hipotireoidismo quando eu engravido se eleva muito. Só que ninguém tratou do hipotireoidismo.
Fiquei grávida pela terceira vez depois de um ano. E também depois de uns 4 a 6 meses de tentativas pra conseguir engravidar. Ao pegar o resultado positivo eu entrei em pânico e corri pro hospital. Só que eu tinha que primeiro ir pro posto, e aí o posto me encaminhar para o hospital, mas o médico que me tratou no aborto me disse que na próxima gravidez eu tinha que ir direto pra lá, que era ambulatório de gravidez de alto risco.
Cheguei no hospital e falei: quero marcar uma consulta. A moça disse, mas não é aqui, você tem que ir no posto, pro posto te encaminhar pra cá. Aí armei um barraco, falei: você vai ter que marcar essa consulta porque se eu perder o bebê eu vou processar você, a culpa vai ser sua, etc. Ela ficou assustada e marcou a consulta pra próxima sexta feira. Só que tem o tempo de Deus, porque… mesmo marcando para a próxima sexta feira, quando chegou na quarta feira eu tive o sangramento do aborto.
Fui pro hospital, fiz ultra-som. Me mandaram ficar 7 dias de repouso e retornar. Começou então a sair sangue com pedacinhos de pele brancos (igual cutícula). Voltei lá, fiz ultra-som e falaram que eu podia ir embora, que eu não precisaria fazer a curetagem. O que eu pedia muito a Deus era que já que vou perder meu bebê, que eu não precise passar pela curetagem.
Só que mesmo assim quando me falaram: pode ir embora porque não tem mais bebê eu chorei muito. Nesse dia até meu marido, quando a gente saiu do hospital e estava no ponto de ônibus ele falou: Ah meu Deus, o que o Senhor quer da gente? Isso mexeu muito com a gente, a cada gravidez a gente falava: agora vai dar certo.
Então, eu vivia de cama chorando em depressão, me recuperei e, depois de 1 ano, eu já estava querendo tentar engravidar de novo. Faltando 7 comprimidos para acabar a cartela de anticoncepcional eu parei de tomar. No dia 2 eu parei, desceu para mim no dia 6, no dia 8 parou a menstruação e no dia 20 meu marido voltou de uma viagem de 18 dias que ele tinha feito. Nem eu nem ele percebemos que quando ele voltou da viagem era o 14º dia do meu ciclo e nem nos preocupamos porque demorava bastante tempo para eu engravidar depois de parar o anticoncepcional. Mesmo assim eu ovulei e engravidei. Logo antes de atrasar a menstruação eu falei pro meu marido: eu to grávida (porque tava me doendo os mamilos).
Ele riu e falou: ah, você está sempre grávida, todo mês está grávida. Eu disse: Não, dessa vez eu sei que to grávida. Ai pensei: vou me segurar até 20 dias de atraso, mas não agüentei. Fui no posto, e nessa época eu estava com uma bolha de glândula de saliva entupida no meu lábio. Parecia uma afta, mas não doía. Quando eu engravidei a bolha já estava enorme. E todo mundo que falava comigo reparava.
Então comentei pro meu marido: vou no médico amanhã. Mas ele achou que eu fosse ver sobre a bolha. Chegando lá no posto eu pedi pra fazer um teste. Ninguém me perguntou quanto tempo eu tinha de atraso nem nada. A enfermeira ainda brincou dizendo: o que você acha que é? E eu falei: acho que é positivo porque a dor do mamilo é igual das outras vezes quando eu tava grávida. A enfermeira respondeu: ah a maioria das moças que passam comigo estão grávidas.
E então o teste deu positivo. Tive muito medo. A enfermeira perguntou: está tudo bem? Você queria? E eu falei: Eu queria, mas estou assustada por causa de tudo o que já aconteceu. E ela me disse: Não, vai dar tudo certo.
Ela pediu que eu voltasse no dia seguinte, então me pediu todos os exames de sangue de rotina. Eu já pedi que ela incluísse o da tireóide, porque quando estou gestando, meu hormônio aumenta muito e isso causa aborto. O médico já havia me avisado isso após a terceira perda.
A enfermeira disse que não pediam exame de hormônio. Então eu disse pra ela falar com a médica pra pedir esse exame senão eu iria perder outro bebê e aí eles serão responsáveis. A médica então concordou e veio com uma pequena alteração. O normal é de 4,93. Na terceira gravidez veio com mais de 16 e não deu tempo de fazer nada. Nessa como já foi com poucos dias de atraso, deu 8. Então estava só o dobro do normal. Já era muito, mas ainda era menor do que da outra vez. Então eles já entraram com Puram que é o remédio da tireóide. Queriam tratar minha gravidez no posto. Tive que bater em cima, recorrer à secretaria da saúde para eles me transferirem. Por 3 dias eu comecei a sentir muita cólica, e procurei o pronto socorro . A médica ficou brava porque minha carteirinha de gestante estava em branco porque eu nem tinha marcado a consulta no posto.
Eu dsse: não tenho culpa, o posto ainda não me atendeu. Ela perguntou porque eu ainda não estava me tratando no ambulatório de alto risco. Eu disse que o posto não estava entendendo que era um caso de grande necessidade e não estavam querendo me transferir. Ela disse: então você vai na Secretaria da Saúde pra conseguir se tratar por aqui, porque é pra você estar urgente se tratando aqui. Minha mãe já estava indo lá já pra mim. Eu tava com umas 7 semanas e ela disse que dali a duas semanas talvez eu não tivesse mais grávida.
Nas outras gravidezes não passava mesmo das 11 semanas. Fiz os exames, voltei pra casa. No outro dia ainda estava muito grande a cólica. Voltei no hospital, a médica me deu uma carta para eu entregar para o Posto. Eu não ia entregar a carta, mas encontrei o agente comunitário bem em frente de casa. Eu chamei ele e expliquei: eu não vou lá, eu to aqui com a carta só que eu não vou porque desde que eu engravidei eu to pedindo por favor pra agendar e ninguém ta acreditando em mim, então se eu for lá eu vou passar nervoso e eu não to afim. Além dos problemas que eu tenho, eu não quero passar nervoso. Ele disse: deixa que eu entrego e converso lá para você. Então eu tinha uma consulta marcada no posto pra um mês depois, e com a carta, marcaram pra mesma semana a consulta no ambulatório de alto risco do Hospital das Clínicas.
Logo que entrei no ambulatório já me passaram AAS, que é pra afinar o sangue, e o Evocanil (progesterona). Porque além de deficiência de anti-coagulante, eu tenho também deficiência de corpo lúteo, que produz a progesterona que sustenta a gestação até o 4º mês, (depois é a placenta). Minha progesterona não aumentava, tive que tomar também. A deficiência era tão grande, que tomei até o 8º mês da gestação. Eu fazia consulta de 15 em 15 dias. No posto eles nem sabiam pra que eu estava tomando AAS.
Ai, graças a Deus, no posto logo que a gente começa a ser atendido, eles também marcam dentista. Cheguei na dentista, ela nem olhou para os meus dentes. A primeira coisa que ela reparou foi na bolha que estava no meus lábios. Então ela me encaminhou para o CEO – Centro Especializado Odontológico.
Fiquei com medo achando que fosse algum câncer de boca. A dentista disse que era uma glândula salivar entupida, que não tinha risco nenhum, mas que só ia tratar depois do 4º mês da gestação por causa da anestesia.
Na primeira semana do 4º mês eu voltei. Durante a micro cirurgia eu passei mal ao ver o sangue, a dentista parou e eu lembrei de dizer que eu estava tomando AAS. Ela perguntou o porquê e eu disse que meu sangue era grosso demais e teria o risco de coagular dentro da placenta ou no cordão.Então a dentista falou que precisava conversar com minha médica porque meu sangue ainda estava coagulando rápido demais. Conversando com a médica, ela me passou Heparina que é injetável (estou com os braços e pernas todo roxos) uma de manhã e uma à noite.
Tive um retorno em poucos dias, o exame de trombofilia ainda estava aguardando resultado. Quando chegou no dia de eu receber o resultado, fiquei toda feliz pensando: agora vou parar de tomar Heparina. Só que o exame na verdade veio com uma alteração muito grande.
O médico me apavorou bastante, disse que eu tinha que fazer repouso. Além disso minha placenta estava baixa e tinha alteração de pressão arterial. Ele ainda disse que eu tinha que receber um tratamento muito especial porque eu não tinha sido feita para gerar um bebê. E que a qualquer momento o bebê podia morrer dentro de mim, ou nós 2 podíamos morrer.
Eu dizia: mas fulana também tem trombofilia e deu tudo certo. E ele me disse: aqui eu atendo vários casos de alto risco, só que você tem todos os casos numa pessoa só. Eu fiquei apavorada quando soube que com alteração de pressão eles podem até tirar o bebê antes da hora e o bebê pode não resistir mesmo assim.
Quase tive um treco, voltei pra casa chorando. Só que antes de eu engravidar, uma irmã da minha igreja me falou que eu iria engravidar e dessa vez eu iria ter esse neném. Então eu tive fé nessa confirmação.
Então num dia eu passei muito nervoso e a pressão subiu, fui para o hospital. A enfermeira que me atendeu puxou assunto comigo e perguntou: É menina né?
Eu disse: Sim, como é que você sabe? Ela balançou a cabeça e não respondeu. E perguntou: Você já escolheu o nome né? Eu disse: Sim, é Débora.
Ela perguntou: Você e seu marido são evangélicos? Eu disse: Sim. Então ela disse: Eu também sou. Olha como estou tremendo, mas não é medo de furar sua veia, porque isso estou acostumada, mas é que tenho um recado da parte de Deus.
Na mesma hora eu já chorei e pensei: Ela sabe o que ta acontecendo. Então ela disse: Quanto tempo você ta na igreja? Eu disse: faz um ano. Ela disse: Nesse tempo que você está na igreja, quantas vezes você viu Deus mentir?
Falei: Nenhuma. Ela disse: Deus não é homem para mentir e ele manda te dizer que a menina que ele te deu é sua, que ela vai nascer no tempo certo, que ela vai ser perfeita. Que é pra você ter paz e confiar mais nele. Porque sem fé não se agrada a Deus. Sua filha vai ser a menina de Deus. Não escuta o que os médicos falam não, só não discute com eles porque senão eles acham que é loucura. Mas você sabe quem é teu Deus. Então apenas crê. Agradeci muito a Deus por ter mandado uma pessoa que nunca tinha me visto me falar todas aquelas coisas.
Uma semana depois, voltei pro pré natal. A pressão deu 22/17. Fiquei desesperada porque conheci uma pessoa que com 6 meses de gestação ela teve que tirar o bebê dela por causa de pressão alta e o bebê não resistiu.
A médica me tranqüilizou e disse que eu só iria precisar retirar se a pressão se alterasse demais. A enfermeira organizou a fila das grávidas para medir pressão e peso. Fui a primeira. Quando a enfermeira viu minha pressão 22/12, me mandaram urgente para o pronto socorro, e eu não estava sentindo nada.
Procurei ficar o mais calma possível para não subir mais e correr o risco de perder a bebê por causa do meu nervosismo. Lembrei do recado da enfermeira da última vez.
Pensei em somente crer em Deus e esperar no que me foi prometido.
Chegando lá, pediram pra eu deitar na maca, e escutei a enfermeira cochichando pra médica: olha ela tem que ser atendida logo porque a pressão dela deu 22/17. Então eu percebi que ela mentiu para não me apavorar, minha pressão tinha dado mais alta do que ela me disse.
Pensei em ligar pra minha mãe, pro meu marido, mas respirei fundo e falei para mim mesma: não vai acontecer nada.
Enquanto eu tentava me manter calma, a médica perguntou meu endereço. Deu um branco tão grande que eu não soube responder. Então ela disse para mim: vou esperar você ficar mais calma, daqui uns minutos eu volto.
Quando ela voltou, uns 10 minutos depois, ela mediu minha pressão: 10/8. Confusa, ela pediu pra enfermeira medir: deu 11/8. Mediram mais 2 vezes com aparelhos diferentes: 12/8 e me dispensaram pra casa.
Na consulta seguinte, o médico aumentou a dosagem dos remédios. Eu já estava tomando 10 comprimidos e 4 ampolas de injeção por dia. Com 35 semanas o médico interrompeu, e falou: vamos ver se o bebê espera pra nascer no tempo certo, mas seja o que Deus quiser.
No dia 6 de abril de 2009, a Débora nasceu saudável, com 40 semanas, de parto normal. Tive pressão baixa durante todo o tempo e tudo correu muito bem.
Talita 27 anos
02/2010
Marília – SP
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Eu, dona deste site peguei a Débora no colo e posso alegar que esta história é verdadeira.
Como a Talita não pode tomar anticoncepcionais devido à trombose, ela estava esperando ter sua primeira menstruação após o parto para colocar o dispositivo DIU.
Não deu tempo: Sem nem menstruar, ela está grávida de 4 meses novamente. Isso mesmo, aquela que não foi feita para gerar.

*tirado do meu outro site www.mamaeonline.com

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